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O varejo não disputa espaço, disputa foco: a ciência da atenção fragmentada em 3 segundos no PDV!
Existem momentos no PDV que passam despercebidos por quase todos, mas definem silenciosamente o desempenho de toda uma categoria. Um deles dura menos de três segundos. Não é o suficiente para contar uma história completa, mas é tempo suficiente para perdê-la.
Vamos entrar nesses três segundos.
Segundo 0,0: o olhar chega, mas não se ancora
O shopper se aproxima da categoria. O movimento dos olhos é imediato, instintivo e profundamente seletivo.
Ele busca:
- Um padrão;
- Uma lógica;
- Algo que faça sentido rápido.
Se nada disso aparece, o olhar não repousa. Ele passa direto, como se a categoria estivesse ali, mas não existisse. Essa é a primeira perda, invisível, mas real.
Segundo 0,4: o cérebro decide se vale o esforço
A mente responde a uma pergunta simples e brutal: “Isso aqui vai me exigir mais do que posso dar agora?”
Se a resposta for “sim”, ainda que de maneira inconsciente, começa um afastamento que não é físico, é cognitivo. A pessoa continua diante da gôndola, mas já não está mais na gôndola.
Essa desconexão silenciosa arruína mais campanhas do que qualquer índice formal de ruptura.
Segundo 1,1: o excesso começa a apagar o que deveria destacar
A mente humana protege-se do excesso apagando estímulos. É assim que funcionamos. Nesse ponto, o shopper já:
- Ignorou metade das embalagens;
- Desconsiderou informações densas;
- Eliminou tudo que parece exigir interpretação;
- Rejeitou materiais que competem entre si.
Nada disso aparece em relatórios. A gôndola continua cheia. Mas, para o shopper, ela está vazia de sentido.
Segundo 1,8: surge o conflito que ninguém mensura
Não é um conflito de escolha. É um conflito de energia mental. O shopper encontra três possibilidades, mas nenhuma delas parece óbvia:
- As diferenças não estão claras;
- A lógica da organização não ajuda;
- A promessa dos produtos não se destaca;
- A categoria exige mais do que ele está disposto a oferecer.
Esse micro-conflito é o que transforma intenções em desistência. E ninguém registra essa desistência.
Segundo 2,5: a decisão já aconteceu
Antes de tocar qualquer produto, o shopper já escolheu:
- Desistir;
- Optar pelo óbvio;
- Adiar a compra;
- Levar o que exige menos interpretação.
Essa decisão é silenciosa. Mas não é aleatória. Ela é consequência direta da forma como o PDV lidou com a atenção, ou não lidou.
Segundo 2,7: o desvio se materializa
É apenas agora, quase três segundos depois do primeiro olhar, que o comportamento se torna visível:
- O shopper passa pela categoria sem parar;
- Ou compara superficialmente;
- Ou pega a opção mais simples;
- Ou abandona a compra que parecia garantida.
Para quem observa de fora, é apenas um movimento rápido. Para quem entende a dinâmica da atenção, é a anatomia de uma perda.
O que essa microanatomia revela sobre o PDV?
Ela mostra que:
- O problema raramente está no produto;
- Quase nunca está no preço;
- Muitas vezes não está na promoção;
- E, na maior parte das vezes, não está na presença.
O problema está entre o olhar e o entendimento. Nesse intervalo minúsculo onde o shopper decide se continua, ou não.
E, quando o PDV não reconhece essa região crítica, ele trabalha apenas com o fim da história, não com o início.
Por que foco é o novo território competitivo do varejo?
Espaço sempre foi tratado como o recurso mais disputado do PDV. Mas o espaço nunca se converteu sozinho.
Em 2026, o ativo mais escasso, e mais valioso, é atenção aplicada, não exposição ampliada. A categoria que exige demais perde, mesmo quando está perfeita. A categoria que simplifica vence, mesmo quando está em desvantagem. A categoria que respeita o ritmo cognitivo tem vantagem estrutural, não estética. O PDV que disputa espaço entra em guerra constante. O PDV que disputa o foco muda o jogo.
Quem controla três segundos controla o resultado
Esses 2,7 segundos não são detalhes. São o núcleo da decisão, isto é, o ponto onde:
- Se ganha margem;
- Se perde verba;
- Se consolida preferência;
- Ou se cria rejeição.
Atenção fragmentada não é problema do shopper. É a realidade do mundo.
A pergunta é: o PDV está pronto para competir nesse intervalo?
Porque quem domina esses segundos não depende de sorte. Depende de clareza. E clareza é o que transforma intenções em resultado.